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domingo, 25 de setembro de 2011

É ou não é rio?

Geólogos divulgam carta aberta em que criticam e colocam em dúvida as conclusões de recente pesquisa brasileira que aponta a descoberta de um rio subterrâneo debaixo do Amazonas.
Por: Sofia Moutinho

É ou não é rio?
Pesquisadores brasileiros divulgam indícios da existência de um ‘rio’ 4 mil metros abaixo do rio Amazonas, mas geólogos da Febrageo criticam a pesquisa e a terminologia escolhida para o fluxo de água. (foto: Flickr/ Spuneker – CC BY 2.0)
"Descoberto rio subterrâneo de 6 mil km debaixo do rio Amazonas”. Ao se deparar com essa notícia, muita gente logo imaginou um caudaloso fluxo de água correndo por um túnel abaixo da terra. No entanto, o suposto rio, anunciado por pesquisadores brasileiros do Observatório Nacional, nada tem a ver com essa imagem.
Não é à toa que o estudo tem causado rebuliço no meio científico, levando um grupo de pesquisadores da Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo) a elaborar uma carta aberta à sociedade criticando as conclusões do trabalho e o uso do termo ‘rio’.
O ‘rio’ subterrâneo, batizado de Hamza em homenagem a um dos seus descobridores, o geólogo Valiya Hamza, foi anunciado no final de agosto no 12º Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Geofísica, chamando a atenção da mídia internacional e conquistando até um verbete na Wikipédia.
Hamza e sua orientanda de doutorado Elizabeth Pimentel, da Universidade Federal do Amazonas, analisaram dados de temperatura da água e das rochas de 241 poços de petróleo desativados perfurados pela Petrobrás na região amazônica e encontraram indícios de que existe um fluxo de água subterrâneo, de 6 mil km de extensão e até 400 km de largura, que corre por entre os sedimentos rochosos a 4 mil metros de profundidade.
Segundo os pesquisadores, o ‘rio’, formado pela infiltração da água da chuva e de outros rios, teria início no Acre e seguiria do oeste para o leste, passando pelas bacias dos rios Solimões, Marajó e Amazonas, até alcançar o mar.
Mendonça: o fluxo de água descrito se assemelha mais a uma esponja molhada do que a um rio
No entanto, geólogos dizem que, mesmo que exista esse fluxo de água, ele não poderia ser chamado de rio, pois se move por dentro de uma camada permeável de rochas, como o calcário e o arenito.
De acordo com o geólogo José Luiz Galvão de Mendonça do Centro Universitário de Araraquara (Uniara) – autor do artigo ‘Rios subterrâneos: mito ou realidade’ publicado na revista CH –, o fluxo de água descrito se assemelha mais a uma esponja molhada do que a um rio.
“Tratar essa água como um rio está errado”, afirma. “Um rio subterrâneo é um conceito popular; na verdade, o que foi descoberto foi um aquífero, rochas porosas que retêm água.”
Hamza conta que foi difícil definir a descoberta, mas que não seria possível chamá-la de aquífero porque o fluxo de água encontrado não fica reservado, mas segue curso e deságua do mar.
“Encontramos movimento de água que corre em área muito extensa e achamos que o melhor seria chamar de rio”, diz.
Esquema rio Hamza
Esquema divulgado pelos autores da pesquisa mostra o ‘rio subterrâneo’ debaixo do Amazonas. (fonte: Coordenação de Geofísica do Observatório Nacional)

Passos de formiga

O estudo de Hamza indica que o fluxo de água subterrâneo é lento, com uma velocidade de 10 a 100 metros por ano, bem menor que a do rio Amazonas, que avança cerca de dois metros por segundo. Mas, de acordo com o pesquisador, isso não é motivo para não chamá-lo de rio.
“Não há definição na ciência para a velocidade mínima ou máxima de um rio”, diz. “Inclusive, no Brasil, existem rios com velocidade inferior a que encontramos, como o Rio do Sono, no Tocantins. Além disso, o nosso rio tem um fluxo de 3.900 m3/s, muito grande se comparado ao do Rio São Francisco, por exemplo.”
Hamza: “Não há definição na ciência para a velocidade mínima ou máxima de um rio”
Na avaliação do pesquisador, o uso do termo rio é adequado, pois, além do rio a que estamos acostumados, que corre na superfície, existem outros dois tipos conhecidos: o atmosférico e o subterrâneo.
Celso Dal Ré Carneiro, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos geólogos que assinam a carta aberta de crítica ao estudo, confronta a análise de Hamza. Ele afirma que ‘rio atmosférico’ não é um termo científico e que o conceito de ‘rio subterrâneo’ é usado apenas para as situações em que águas fluem dentro de cavernas.
“Chamar de rio o fluxo de água indicado no estudo é o mesmo que dizer que uma caneta que tem forma de lápis é um lápis e não uma caneta. Esse estudo fere conceitos arraigados nas geociências.”
Carneiro e os demais geólogos que assinam a carta destacam que fluxos de água lentos como o indicado por Hamza “são comuns na região do rio Amazonas e estudados há tempos pelos geólogos brasileiros”.

Conclusões precipitadas

De acordo com Hamza, uma das principais implicações da descoberta do ‘rio subterrâneo’ é a explicação que ele traz para a presença de bolsões de baixa salinidade na zona oceânica em torno da foz do Rio Amazonas.
Segundo o pesquisador, a baixa salinidade dessa região, que resulta em uma fauna única, não poderia ser causada somente pelas águas doces do Amazonas.
Carneiro: “É muita suposição dizer que esse fluxo deságua no mar, bem como especular sobre sua velocidade, vazão e dimensão”
Essa tese é confrontada pelos geólogos da Febrageo. Segundo eles, a descarga do Amazonas é sim suficiente para formar os bolsões de água doce no Atlântico e não há como afirmar que o fluxo de água descoberto chega ao oceano e nem mesmo se ele é de fato doce.
“É muita suposição dizer que esse fluxo deságua no mar, bem como especular sobre sua velocidade, vazão e dimensão”, defende Carneiro. “O trabalho como um todo não é absurdo, mas as suas conclusões são precipitadas, baseadas apenas em dados indiretos de temperaturas que não foram avaliados por pesquisadores independentes.”

FONTE: INSTITUTO CIÊNCIA HOJE
Sofia Moutinho - Ciência Hoje On-line

Substância encontrada em tubarão detém vírus da hepatite B

      Vem da biodiversidade marinha uma nova e potente arma contra os vírus de doenças como a febre amarela e a hepatite. Trata-se de uma molécula que impede que os vilões microscópicos consigam grudar nas células que atacam, dificultando infecções. O resultado não seria uma vacina contra os vírus, mas um medicamento potente, capaz de enfrentar os primeiros ataques virais contra o organismo e rebatê-los, reduzindo muito a chance de problemas de saúde para o doente.

Arte
A substância protetora é a squalamina, assim batizada por causa do pequeno tubarão Squalus acanthias, que mede 1 m de comprimento. Ela também é encontrada no sistema de defesa do organismo de uma lampreia (estranho peixe cuja boca parece uma ventosa).  Contra uma série de vírus, entre os quais o da febre amarela e o da hepatite B, injeções de squalamina chegaram até a zerar a contagem viral (ou seja, o número de vírus no organismo) dos animais estudados pela equipe. Os testes foram feitos com hamsters e camundongos, e também com células cultivadas no tubo de ensaio.
Embora a pesquisa seja preliminar, os especialistas afirmam que há boas chances de a molécula começar a ser testada em breve em seres humanos para enfrentar vírus. Ocorre que ela já alcançou o nível de testes em pessoas para outros fins, como combater tumores.  Por isso, os níveis da substância considerados seguros para seres humanos já são bem conhecidos, entre outros detalhes importantes. Além disso, a indústria já sabe como produzir a substância em grande escala --não será preciso capturar tubarões e lampreias para obtê-la. 

ESCUDO
A chave para o sucesso da squalamina está na curiosa interação que ela tem com a membrana que circunda as células. Essa membrana é o portal para o interior da célula e, por ela, entram tanto nutrientes como vilões, como vírus e outros invasores. A molécula dos tubarões consegue mexer com o equilíbrio elétrico da membrana quando a atravessa. E faz isso sem causar danos aparentes às células que adentra. Ao fazer isso, ela dificulta a vida dos vírus, porque eles não conseguem "aprender" a se ligar à membrana alterada. Assim, eles têm dificuldade para entrar na célula ou, se já estão dentro dela, não conseguem sair para invadir outras células do organismo. Um dado importante é que essa atividade protetora da substância parece valer para vários tipos de vírus. 

O estudo está na revista científica americana "PNAS". 

FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO - REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE